OKARA – Centro, Praça, Terraço, Espaço central de uma Aldeia indígena.

A Revista OKARA objetiva valorizar a produção cultural a partir de um conjunto de compreensões flutuantes deste mundo plural em que vivemos. Com a intenção de avaliarmos criticamente qual é a posição do arquiteto hoje, definimos um conjunto de valores a serem pensados e debatidos. O termo base para esta discussão é: Uma Arquitetura do enfrentamento.

1. O enfrentamento, tem origem no verbo “enfrentar”, formado pelo prefixo “em”, mais “frente”, que vem do Latim FRONS, “testa, rosto, o que se projeta para diante”. Assim, a palavra aqui utilizada tem conotação de “estar ou colocar(-se) defronte a, gerar embate, posicionar-se ativamente em relação à arquitetura.

2. Arquitetura do enfrentamento engloba conceitos, críticas, ideias, objetos construídos, territórios, habitats, etc; que promovam o posicionamento frente a questões urgentes em nossa sociedade. Parte-se de que a crítica é mais positiva quando apresentamos um caminho possível de ser trilhado pela arquitetura.

3. Arquitetura e Urbanismo que promovam o enfrentamento à exclusão de classes, à criação de ilhas de exclusividade e a formação de espaços segregados.

4. Arquitetura e Urbanismo que enfrentam o caos urbano e a deterioração do espaço público e coletivo.

5. Arquitetura e Urbanismo que combatem a crise climática e ambiental global, promovendo valores ecológicos locais e proteção dos biomas brasileiros.

6. Arquitetura e Urbanismo que se posicionam quanto à elitização da prática arquitetônica e promovam a expansão da arquitetura para à sociedade, compreendendo o campo arquitetônico como produtor de cultura.

7. Arquitetura e Urbanismo que promovam o enfrentamento ao empobrecimento crítico da profissão, ou seja, que promovam o debate aprofundado da arquitetura, seja a técnica, a forma, linguagens, origens, etc.

8. Arquitetura e Urbanismo que respondam à massificação cultural. Que promovam as diferenças culturais existentes dentro do estado do Paraná, assim como em outras regiões. Promove ainda a análise crítica dos temas atuais, desenvolvendo o experimento especulativo e estimulando a experiência criativa.

9. Arquitetura e Urbanismo que estimulam a técnica construtiva e não apenas reproduzem padrões industrializados externos e corporativos;

10. O enfrentamento pressupõe que a arquitetura paranaense, com todas as suas regionalidades, deve ser compreendida em suas peculiaridades locais. A valoração de uma arquitetura paranaense passa necessariamente pela compreensão de arquiteturas da América Latina e outras regiões, como modo de compreender comparativamente como a arquitetura paranaense está sendo produzida. Não nos interessa “arquiteturas” internacionais, genéricas e desconectadas das realidades locais.

11. Enfrentar determina uma posição de direcionamento, ou seja, de que a arquitetura paranaense não pode e não deve se posicionar apenas como representante de valores, ao contrário, deve direcionar valores considerados relevantes.

12. Uma arquitetura e urbanismo que enfrentam a eliminação constante do nosso patrimônio material e imaterial. Que não transforme a cultura em recortes, mas que a compreenda dentro de suas diversas possibilidades interpretativas.

13. O enfrentamento resulta em tomar posição crítica. Não define uma escola, não nos interessa rótulos como a de uma escola de determinada região. Interessa identificar princípios que regem uma produção paranaense diversa. Enfrentar significa abordar a crítica como ferramenta educadora, posicionand0-se sempre de uma maneira propositiva.

14. Enfrentar aparece como reação de um cansaço resultado da valoração de verdades questionáveis, de discussões rasas sobre a cidade, da busca incessante por imagens externas, padronizadas e promovidas por grandes corporações, indústrias, empresas, etc.

15. Uma arquitetura e urbanismo que se posicionam e enfrentam a realidade da profissão deve estimular o debate e a crítica, tendo como objeto principal a produção paranaense. Publicações externas ao Paraná e ao Brasil são bem-vindas, mas sempre com o objetivo de levar temas relevantes e comparativos à discussão da arquitetura paranaense.

16. Uma arquitetura e Urbanismo que estimule o acesso à arquitetura por todas as camadas sociais existentes.

17. O enfrentamento engloba o estimulo à concursos de arquitetura por compreender ser esta a ferramenta mais democrática para a promoção de arquitetura de qualidade. O concurso é um modo de democratização da arquitetura. Um problema mais amplo e urgente, o qual a arquitetura pública no Paraná tem se confrontado nos últimos 30 anos.

18. A classe arquitetônica deve promover a arquitetura não de maneira comercial, mas de modo político. Isso gera enfrentamento. Precisamos ter voz sobre o que nos cabe.

19. Faz-se necessário o posicionamento da arquitetura paranaense, em comparação com o restante do mundo. Não podemos ser omissos por ausência de poder da classe, a qual junto de outros órgãos deve tomar frente nos assuntos relativos à cidade. Assim pode-se promover uma visão da arquitetura. É necessário que a profissão esteja inserida na discussão intelectual da cidade, posicionando-se com uma presença efetiva da profissão junto aos Poderes Públicos e nos programas de desenvolvimento do país, em todas as tarefas do arquiteto.

20. Enfrentamento deve acontecer na base de processos de transformação das cidades. Deve buscar compreender por que os arquitetos têm sido excluídos das decisões importantes que moldam nosso espaço urbano. Compreender por que e como os projetos públicos têm sido escolhidos em nossas cidades.


Conselho Editorial, Curitiba, Março de 2024.

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