Em “Samba da Bênção” Vinicius de Moraes diz que: “Um bom samba é uma forma de oração”.
De certa maneira, com a “Boa Arquitetura” também é assim! Aquele que a concebe precisa exercitar seus pensamentos com boas intenções, buscar proposições que impactem positivamente a vida das pessoas, ideias e aspirações que transformem nossas cidades e sociedade em um lugar melhor.
O olhar do arquiteto é moldado pelo desejo do progresso, jamais pelo retrocesso ou pela destruição. A boa arquitetura é feita de boas intenções, assim como as orações ou as composições de Vinicius de Moraes.
Foi com este espírito que, há 40 anos, o então governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, incentivado pela parceria do professor Darcy Ribeiro, encomendou a Oscar Niemeyer o projeto do Sambódromo do Rio de Janeiro, localizado no centro da cidade, na Avenida Marques de Sapucaí.
Vista aérea do desfile da Portela na Marquês de Sapucaí –
Fernando Maia/Divulgação/Riotur
A idealização do projeto e a realização do Sambódromo ocorreram no contexto da redemocratização do Estado Brasileiro, durante o período das tratativas políticas e diplomáticas que efetivaram o retorno da democracia no Brasil. Este projeto atendeu às necessidades da sociedade relacionadas à arte e cultura, que foram reprimidas pelo estado durante a ditadura militar.
Antes da inauguração do Sambódromo, os desfiles aconteciam em outros quatro lugares: no centro do Rio, praça XI, avenida Presidente Vargas, avenida Rio Branco e avenida Presidente Antônio Carlos.
O projeto de arquitetura que transformou a maneira como os cariocas e hoje o mundo todo veem o samba foi anunciado em setembro de 1983. A obra teve a participação de 2.690 operários, que trabalharam incansavelmente 24 horas por dia para concluir a execução do projeto no início de 1984.
Conhecido como Marquês de Sapucaí, o Sambódromo tem como nome oficial Passarela do Samba Professor Darcy Ribeiro. O capricho arquitetônico de Niemeyer pode ser facilmente notado no símbolo maior que é o Arco da Praça da Apoteose.
Uma proposta ousada, que impacta na forma de expressão de um dos pontos centrais da cultura popular brasileira, que é o Carnaval. Ao mesmo tempo, recobra uma atribuição universal da arquitetura, que é a de abrigar todas as artes, como a escultura, a pintura, a música, a literatura e o cinema, e, no caso do Brasil, também o samba.
Hoje, o carnaval do Rio de Janeiro é reconhecido como “O Maior Espetáculo do Planeta”. A Passarela do Samba Professor Darcy Ribeiro contempla 60 mil metros quadrados de construção, uma pista de cerca de 700 metros de extensão e tem capacidade para receber até 64 mil pessoas. A proteção provisória da obra foi dada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde o ano de 2016, concedendo o tombamento oficial através de publicação no Diário Oficial da União somente em 22 de abril de 2021.
O IAB/PR, junto com a revista HABITAT, estão comprometidos com a valorização da arquitetura e do urbanismo, assim como o impacto das atribuições desta profissão em nossas cidades, na sociedade e nas manifestações artísticas, culturais e sociais.
Texto: Arquiteto Luiz Eduardo Bini
Portal ArchDaily
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